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Leia entrevista com Luizianne após a vitória para a prefeitura de Fortaleza  

Após conquistar a reeleição em primeiro turno, a prefeita petista Luizianne Lins (39) abriu espaço em sua apertada agenda de comemorações e, claro, projeções de nova gestão, para conversar com este Blog. Em entrevista ao nosso colaborar mais do que especial, jornalista Demitri Túlio, Luizianne abre o verbo. Conta, por exemplo, que, vez em quando sente falta da liberdade pessoal. Não esconde situações difíceis à frente da administração que a levaram, vez por outra, a momentos de depressão. Ela, no entanto, projeta um segundo período de "consolidação administrativa".

Consolidada como liderança na capital cearense, Luizianne Lins afirma que ganhou a eleição no primeiro turno por méritos de quem demonstrou compromisso com a cidade. Não há, segundo a petista, projeto individual de poder, beneficiamento de grupo político ou mágica de marqueteiro.

Sobre João Alfredo, ex-aliado e o vereador mais votado em Fortaleza, não poupa: espera uma oposição sectária. Luizianne anuncia também reestruturação das Regionais. Além disso, o novo perfil dos titulares das Regionais deverá ser "menos político e mais técnico". Na gestão que está terminando, alguns "se investiram mais de poder do que a própria prefeita."

BLOG - Um "prefeitinho" às vezes tem mais poder que a prefeita. As secretarias regionais vão passar por reformulação?

Luizianne Lins - Olhe, visitei em 2006 uma experiência em Rosário na Argentina. Lá, eles estão há 16 anos descentralizando as "regionais". De lá troxemos a experiência da praça de atendimento inteligente. Já estamos experimentando na Regional VI. Na hora que a pessoa chega e diz o que quer, a demanda dele entra em um sistema e uma senha eletrônica o direciona para a fila que tem menos gente para ser atendida. É para resolver seus problemas de maneira menos demorada. Estamos utilizando verbas do Programa Nacional de Apoio à Gestão Administrativa e Financeira. É um programa de modernização da gestão de uma forma geral. A idéia também é criar outras duas regionais para dividir o trabalho da VI, que é maior territorialmente, e a V. As regionais serão mais fortalecidas no sentido da execução. Planeja-se em uma secretaria temática, no governo e se executa na regional. Para isso, retomaremos o Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor). Na secretaria regional se terá menos margem de se fazer políticas individuais.

BLOG - Isso aconteceu na primeira gestão?

Luizianne Lins - A gente observou que há uma tendência disso acontecer. Eu costumo dizer que uma regional é a segunda maior cidade do Ceará depois de Fortaleza, porque no mínimo você tem 350 mil pessoas. Se não cuidar, ele vira um "prefeito" e você terá seis cidades segregadas.

BLOG - Na eleição passada a senhora tinha outros aliados, nessa vive outra realidade. Que filme passa na cabeça?

Luizianne Lins - Na verdade, nós perdemos pouca gente. Havia três figuras públicas que nos apoiavam mais diretamente, afora uma militância que está toda na campanha. Era o João Alfredo (hoje PSol), o Pinheiro (Francisco Pinheiro, hoje vice-governador) e o Sérgio Novais. O João Alfredo e o Renato Roseno foi uma separação política muito doída, mas a gente está muito feliz porque somos os mesmos com as mesmas pessoas que estão em volta e enfrentando o desafio de ser governo.

BLOG - A senhora chamaria os dois para um trabalho na Prefeitura?

Luizianne Lins - Eu tenho achado as posições deles muito sectárias, muito esquerdista e não de esquerda. Esquerdista como dizia o camarada Lênin: "esquerdismo é doença infantil do comunismo". Os quadros políticos do PSol não vêem nada de bom no governo Lula! Como não? Não há mediação nenhuma na crítica. Como achei também um absurdo, acusarem a Prefeitura de ser estar pressionando servidor para apoiar a reeleição. Nunca, nunca, a Prefeitura foi tão isenta no processo eleitoral. Constituímos uma ouvidoria eleitoral, fizemos uma cartilha de orientação e distribuímos com todos os servidores: comissionados e não comissionados.

BLOG - Como a senhora imagina a oposição que João Alfredo fará na Câmara Municipal?

Luizianne Lins - Acredito que a postura dele tem sido muito intolerante ao grupo que ficou.

BLOG - Sua vida mudou totalmente, principalmente agora. A senhora não tem mais tanta liberdade como antes. A senhora tem alguma saudade de outros tempos?

Luizianne Lins - Eu sempre fui uma pessoa do mundo, sempre ganhei o mundo e transitei em todo canto. O maior sacrifício pra mim é essa ausência de poder estar em qualquer lugar, a qualquer hora da forma que eu quiser estar. Sinto falta. Já aconteceu caso como num dia em que sai andando no aeroporto velho (Pinto Martins), sozinha, e as pessoas começaram a olhar para mim. Me senti estranha e comecei a olhar a roupa para ver se tinha algo sujo ou errado. Comecei a ficar preocupada. Quando alguém gritou "olha a Luizianne", caiu a ficha. Eu tinha esquecido que era prefeita! Eu sinto falta dessa liberdade.

BLOG - Tiveram momentos em que a senhora pensou em desistir da reeleição?

Luizianne Lins - Eu passei alguns dias muito mal. Era o sentimento de saber se eu queria como pessoa, como ser humano, se deveria renovar esse compromisso com o povo. Eu levo muito a sério isso, não é brincadeira ou ganância barata por poder. Eu vejo como missão como a minha vida pública toda. Sinto saudades da universidade (UFC), quero voltar a estudar. Me organizei mentalmente para terminar o primeiro mandato e ir terminar meu mestrado em Filosofia Contemporânea, depois ir fazer meu doutorado fora do Brasil. Passar uns dois anos fora do Brasil. Veio essa missão e de qualquer maneira a gente acabou não construindo alternativa para continuar o projeto. Era muito coisa para fazer e priorizar. Era a cidade quebrada financeiramente. Havia o dilema de você ter feito tudo e entregar de mão beijada. Saneamos as contas, pagamos 95% das dívidas de curto prazo. Se há uma coisa que fiz, foi correr atrás de dinheiro para assegurar recursos. Hoje tenho 60 milhões para fazer os Cucas com o dinheiro do BID; tenho já aprovado o Transfor; 40 milhões para o Hospital da Mulher; 5 milhões para o calçadão da Praia de Iracema e 22 milhões que sairá depois da eleição para urbanizar o resto da Praia de Iracema. Os nós grandes da cidade estamos enfrentando como é o caso da Vila do Mar, a Rosalina onde construímos 1802 casas - maior que Nova Jaguaribara.

BLOG - O governador Cid Gomes (PSB) deverá ser candidato à reeleição em 2010. Ele é seu candidato?

Luizianne Lins - Se for candidato à reeleição, ele é meu candidato. Acredito que não vá ter grandes alterações. A única coisa que poderia acontecer, é uma hipótese que eu não acredito, de o PSDB querer se coligar com a esquerda. Nós não iremos se coligar com o PSDB em nenhuma hipótese. Ainda mais porque além de tudo - do ponto de vista político -, o PSDB é muito ruim.

BLOG - As declarações do deputado federal Ciro Gomes (PSB) elogiando seu carisma é um aceno?

Luizianne Lins - Eu tenho dito em relação a ele que não me interessa o que ele pensa ou diz. Não dou a menor notícia. Ainda mais, além de me atacar, diz que ganhei por causa do Duda Mendonça. É uma falta de respeito. Achei leviano o tom desrespeitoso que ele utilizou contra mim e o governo. Foi mal educado ao me chamar de "coronel de saia", "stalinista", "Fortaleza puteiro a céu aberto", que Duda Mendonça elegeria até um "tolete de cocô". Definitivamente, ele não é referencial para mim.

BLOG - A senhora se deprimiu nessa campanha?

Luizianne Lins - Eu passei 20 dias deprimida. Era uma angústia pessoal, não era política. Fiquei muito angustiada sem saber se queria ou não queria retomar esse compromisso com o povo. Faço política com a alma, é muita responsabilidade. Comecei tudo muito cedo e nunca tive padrinho político. Fui eleita vereadora com 26 anos, fui eleita prefeita com 36, hoje tenho 39 anos. Fui a mais votada do PT com 26 anos, passei 10 anos no parlamento e quatro anos de governo. Não deixa de ser sacrifício muito grande para quem não é corrupto e não vê o governo como um negócio. Para você ter uma idéia, não tirei um dia de férias e até nas viagens havia compromissos políticos. Eu não desligo, eu sou assim.

BLOG - No começo da campanha, a imprensa e os analistas políticos diziam que a senhora não seria eleita. A senhora fazia que leitura?

Luizianne Lins - Eu sempre estive tranqüila, da mesma maneira que em 2004. O mesmo sentimento que eu ia ganhar a eleição. Comecei com 30% das intenções de votos segundo o Datafolha. Era um empate com o Moroni, que vive numa eterna expectativa e eu que estou no olho do furacão! A oposição apostava no fracasso e que o ciclo deles voltaria. O desastre não se consolidou porque demonstramos pulso e determinação. De 2004 pra cá eu era a única mulher prefeita de capital do Brasil e a mais nova. Não é uma situação confortável, tem uma série de preconceitos. Era um desafio que conseguimos vencer. Olha, o Duda Mendonça não venceu a eleição. A "Duda Mendonça" fez a campanha. O Duda foi consultor. Quem fez a campanha foi o mesmo pessoal que fez a campanha de 2004. O Joe Pimentel, a Isabela, o pessoal de rádio da campanha passada. A todo momento teve uma interação, o slogan inicial foi mudado a pedido nosso, o fundo do material de propaganda, o posicionamento estratégico no primeiro momento. Ele achava que tinha de rebater críticas e seguramos porque eu disse que não ia polarizar com ninguém. Não ia responder besteira.

BLOG - De quem foi a decisão que você iria para os debates?

Luizianne Lins - Minha. Eu disse que não ia faltar a nenhum debate porque nunca tive medo de debate. Decidi por respeito ao povo e disseram que eu queria me fazer de vítima.

BLOG - Qual vai ser o papel do Tin Gomes como vice?

Luizianne Lins - O papel dele político a gente vai discutir posteriormente. A idéia é que ele cumpra um papel de auxiliar à prefeita e colabore com a cidade. Está sempre à disposição da cidade, sem ficar tencionando internamente o governo. Quanto mais discreto e colaborador ele for, melhor. Não é a toa que quando nos foi oferecido a vice-governadoria escolhemos o Pinheiro (Francisco). Nós pensamos em um quadro de alta qualidade política e intelectual. O Cid Gomes já me disse que eu dei pra ele o vice que pediu a Deus. Ele só colabora.

BLOG - Que música você quer ouvir amanhã (hoje)?

Luizianne Lins - Aquela do Chico Buarque: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia/ Eu pergunto a você onde vai se esconder/Da enorme euforia? Como vai proibir/ quando o galo insistir em cantar?/Água nova brotando...".


(Foto - Edimar Soares)

Fonte: Blog do Eliomar

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