De Brasília para o mundo
Congresso já gastou R$ 1,8 milhão com viagens oficiais de parlamentares para lugares como Tailândia e Indonésia. Tem até empresa de turismo criada pelo legislativo e as faltas durante as viagens são abonadas.
Rio - Paraíso em Bali, destinos exóticos na Austrália, Tailândia, Grécia e até as Olimpíadas de Pequim. Esse é o roteiro das missões oficiais que os deputados apresentam à Mesa Diretora da Câmara. Em 2008, as viagens custaram R$ 1,9 milhão à Câmara. O desejo de internacionalizar a carreira parlamentar fez com que congressistas brasileiros até criassem uma empresa, a Associação Interparlamentar de Turismo, que presta serviços à Casa organizando e indicando deputados e senadores para giros ao redor do mundo.
Só a associação recebeu dos cofres públicos R$ 1,8 milhão desde que foi criada, em 2002, e mantém contrato de R$ 207 mil com o Senado. Dos 513 deputados, 178 já viajaram com dinheiro da Câmara. Dos 10 que integram a bancada do Rio, 8 visitaram outros países.
Os deputados Dr. Rosinha (PT-RS) e Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) disputam a presidência da ‘bancada do exterior’. Enquanto o petista passou 105 dias fora do Brasil e somente para o Uruguai fez 23 viagens, o mineiro se concentrou na Europa: visitou a França cinco vezes, Turquia e Alemanha duas vezes e ainda Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Suíça e Rússia, totalizando três meses fora. Isso desde janeiro de 2007.
Escolhido para fiscalizar as Olimpíadas de Pequim, Albano Franco (PSDB-SE), nos relatórios de viagem, mandou anexar lista de medalhistas brasileiros. Já Francisco Rodrigues (DEM-RR) narrou seu roteiro turístico na China: “Visita à Cidade Proibida, à Torre Diwang, com vista panorâmica da cidade”. Édio Lopes (PMDB-RR) passou oito dias na Austrália para conhecer o modelo de extração mineral e Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) ficou 10 dias na Tailândia. Luiz Sergio (PT-RJ) viajou para o Japão e para Estados Unidos.
Alexandre Santos (PMDB-RJ) tem sete viagens internacionais. Uma delas para Bali. Otávio Leite (PSDB-RJ), que não faz parte da associação, também já viajou, mas critica viagens “a passeio”. “Fui conversar com autoridades em Washington e Nova Iorque sobre a emissão de vistos para americanos. Na Alemanha, fui a uma feira de turismo onde havia empresas interessadas em montar pacotes para o Brasil”, explica. Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirma que a viagem que fez ao Haiti aconteceu graças a seu histórico militar. “Viajei em avião da FAB e dormi em tenda de militares”, conta, referindo-se à diária de 350 dólares.
Faltas ao Congresso são abonadas
A mesa diretora da Câmara não limita o número de viagens e não estabelece critérios para custear os roteiros apresentados pelos deputados. Além de ter direito a passagens aéreas de classe econômica e diárias de 450 dólares (R$ 990) para viagens internacionais e R$ 300 para as nacionais, o parlamentar ganha abono nas faltas e não é descontado no salário pelas ausências em votações. Cada dia trabalhado corresponde a aproximadamente R$ 1 mil.
A Associação Interparlamentar de Turismo atua como uma espécie de captador e canalizador das sugestões e indicações para missões internacionais. A entidade é uma organização de parlamentares que atua no Congresso para conseguir benefícios para os próprios parlamentares. Levantamento da ONG Contas Abertas feito a pedido de O DIA mostra que a Câmara comprava, desde 2002, passagens pela Interparlamentar. O modelo de aquisição foi suspenso, e agora a Mesa Diretora paga diretamente.
Na Receita Federal, a associação é registrada com sede no 23º andar do Senado Federal, mas o local abriga apenas o setor de Controle Interno da Casa. A Associação Interparlamentar de Turismo é o braço brasileiro de um grupo mundial de parlamentares que organizam encontros custeados por seus legislativos.
Fonte: O Dia On Line
20/04/2009, 19:42
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